Robinson Crusoe - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 205 / 241

Ele sabia perfeitamente a cevada e o arroz que colhera; tal colheita, mais do que suficiente para mim, mal chegaria, e ainda que com muita poupança, para a minha nova família, então composta por quatro indivíduos; não poderia, portanto, bastar para prover à subsistência de todos os seus compatriotas se viessem já habitar a ilha. Eles eram, segundo disse, dezasseis. Aliás, teria sido impossível abastecer uma embarcação, no caso de conseguirmos construir uma, para que nos levasse a qualquer das colónias cristãs da América. Aconselhou-me, pois, a que o deixasse a ele e aos seus dois companheiros revolver e lavrar tanta terra como de grão havia de reserva para semear, e aguardar as próximas colheitas, o que daria para acudir às necessidades dos seus compatriotas; que de outro modo a fome poderia levá-los ao descontentamento ou a pensar que não iriam ser libertados: julgariam ter apenas mudado de infortúnio.

- Sabe - disse-me -, que os filhos de Israel se regozijaram ao princípio com a sua saída do Egipto e que acabaram, apesar disso, por revoltar-se contra o próprio Deus, que os tinha libertado, quando viram que lhes faltou a comida no deserto.

A sua previsão era tão razoável e o seu conselho tão sábio que me admirei tanto da sua proposta como da sua fidelidade. Consequentemente, pusemo-nos os quatro a trabalhar, conforme o permitiam os nossos instrumentos de madeira; e no espaço de um mês, ao fim do qual chegou o tempo da sementeira, preparámos terreno suficiente para semear vinte e duas fangas, ou pouco menos, de cevada, e dezasseis de arroz. Era este todo o grão de que podíamos dispor, pois nos ficava apenas a cevada necessária para a nossa subsistência no espaço de seis meses que tínhamos de aguardar até à colheita; entenda-se, seis meses a contar do dia em que reservámos o grão destinado à semeadura, pois não há que julgar que devia permanecer seis meses na terra.





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