Robinson Crusoe - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 213 / 241
- As nossas desgraças, cavalheiro, seriam longas de mais para as contar enquanto os nossos assassinos andam tão perto. Mas ei-las em duas palavras: sou o comandante daquele buque; a tripulação sublevou-se contra mim. Decidiram, após muita discussão, deixar-me a vida, e querem abandonar-me nesta praia deserta com estes dois homens que aqui estão, dos quais um é o meu imediato e o outro um passageiro. Contávamos perecer aqui, julgando a ilha desabitada, e não sabemos ainda que pensar.
- Onde estão - perguntei -, os vossos infames inimigos? Sabe para que lado foram?
- Estão ali deitados - disse-me, apontando um pequeno bosque. - Temo que os tenham visto e que nos oiçam falar pois, se tal acontecer, podemos ficar certos de ser todos assassinados.
- Têm armas de fogo? - perguntei-lhe.
- Duas espingardas apenas, uma das quais ficou na chalupa.
- Está bem - disse. - Nesse caso eu encarrego-me do resto. Vejo que estão todos a dormir; seria fácil matá-los, mas talvez seja melhor fazê-los prisioneiros.
Disse-me então que entre eles havia dois malvados que estavam furiosos, e que seria muito pouco prudente conceder-lhes qualquer graça; mas que se eu os pusesse na situação de não poderem causar nenhum dano, ele pensava que os demais facilmente voltariam aos seus deveres. Supliquei-lhe que mos indicasse. Não podia distingui-los àquela distância, explicou, mas prometeu obedecer-me em tudo, e por tudo.
- Seja - disse eu. - Retiremo-nos, pois, de modo que não possam ver-nos nem ouvir-nos se chegarem a acordar, e deliberaremos sobre o que havemos de fazer.
Seguiram-me com gosto até ao bosque, onde nos ocultámos perfeitamente.
- Olhe, cavalheiro - disse-lhe então - se eu me arriscar a salvá-los a todos, estão dispostos a cumprir as duas condições que lhes vou propor?