Robinson Crusoe - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 5 / 241

Durante esta atribulação fiz muitas vezes o voto de que se o Senhor me livrasse de transe tão amargo, e eu pudesse pôr de novo pé em terra firme, não tornaria nunca mais a embarcar e regressaria logo de seguida a casa de meus pais, para deixar-me guiar daí em diante pelos seus conselhos e não me expor outra vez a semelhantes perigos. Vi então claramente como eram justas as suas observações acerca da vida, que doces e agradáveis haviam passado os seus dias não tendo experimentado qualquer borrasca no mar nem desgraça alguma em terra. Resolvido a imitar o arrependimento do filho pródigo, decidi voltar para casa de meus pais.

Estas ideias prudentes e saudáveis duraram o que durou a tempestade; mas no dia seguinte o vento tinha amainado e eu comecei a reconsiderar. Todo o. resto do dia permaneci silencioso, achando-me algo enjoado; ao aproximar-se a noite, o tempo limpou, o vento parou completamente e a tarde ficou encantadora; quando o sol se pôs, o firmamento não estava maculado por qualquer nuvem, e no outro dia pela manhã levantou-se também num horizonte puro. Mal se notava uma brisa fresca e suave nas águas polidas como um espelho, e o sol, que brilhava na sua superfície, oferecia aos meus olhos o espectáculo mais delicioso a que assisti.

Dormi bem toda a noite, de modo que, longe de continuar enjoado, encontrava-me agora cheio de saúde e vigor, contemplando com assombro aquele mar, poucas horas antes tão terrível e agitado, e naquele instante tão bonançoso e tranquilo. Estava eu submerso nestas ideias, quando o meu camarada, aquele que me incitara a fazer a viagem, temendo que eu persistisse em regressar ao bom caminho, se aproximou de mim e, dando-me uma pancadinha nas costas, disse:

- Ora bem, meu amigo, como te sentes? Aposto o que quiseres que esta noite passada tiveste medo, quando não houve mais do que uma pequena rajada de vento. - Chamas a isso uma pequena rajada de vento disse-lhe -, e foi uma verdadeira tempestade?

- Uma tempestade? - replicou-me. - És um infeliz; isso não foi nada.





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