Na grande economia do Todo, os terríveis golpes da realidade (na ambição, nas paixões, na vontade, de poder) são necessários em grau inapreciável, muito mais que a forma medíocre de ser feliz que se chama «bondade». É preciso até ser indulgente para conceder lugar a esta última, visto que ela tem por condição a mentira dos instintos. Terei já ocasião de mostrar as consequências perturbantes 'e incomensuráveis que pode ter, para toda a história, o optimismo, essa criação dos «homines optimi». Zaratustra compreendeu antes de ninguém que o optimista é tão decadente como pessimista, e talvez mais nocivo. Eis as suas palavras:
«Os homens bons nunca dizem a verdade. Os homens bons ensinam a falsidade na maneira de agir e de pensar. Vos nascestes e fostes educado nas mentiras dos bons. Tudo foi desde o fundo deformado e pervertido pelos bons.»
O mundo não está felizmente para corresponder aos instintos em que o animal de rebanho encontra a felicidade. Exigir que todos os «homens bons» tenham olhos azuis sejam bondosos tenham uma «bela alma» - ou, como quer o senhor Herbert Spencer, se tornem «altruístas» - seria retirar à existência a sua característica primacial, seria castrar a humanidade e fazê-la descer à mais mesquinha chinesice.