Era um problema físico que exigia solução: como entrar em contacto com a moça e combinar um encontro. Já não considerava a possibilidade de ser armadilha. Sabia que não era, por causa da inconfundível agitação da morena ao lhe entregar o bilhete. Era evidente que morria de medo, como seria natural. Tampouco lhe passara pela cabeça a ideia de recusar a declaração. Cinco noites antes pensara em esmagar-lhe o crânio com um paralelepípedo; mas isso não importava. Pensava em seu corpo nu e jovem, como o vira em sonhos. Imaginara-a uma tola, como todas as outras, a cabeça recheada de patranhas e ódio, a barriga cheia de gelo. Uma espécie de febre o dominou, ao pensar que Poderia perdê-la, o corpo jovem e alvo fugindo dele! O que temia, mais do que qualquer outra coisa, era que ela mudasse de ideia, se não fizesse logo por entrar em contacto com ela. Mas era enorme a dificuldade física de se encontrarem. Era como mover uma pedra ao xadrez, depois de ter levado mate. Para onde quer que se virasse, tinha a teletela pela frente. Na verdade, todas as maneiras possíveis de se comunicar com ela lhe haviam ocorrido nos cinco minutos após ler o recado; mas agora, com tempo para refletir, examinou-as, uma a uma, como quem depõe na mesa uma fila de instrumentos.
Evidentemente, não se podia repetir o encontro havido aquela manhã.