1984 - Cap. 17: Capítulo XVII Pág. 213 / 309

Fora também bastante evidente que tipo de pessoas controlaria este mundo. A nova aristocracia era composta, na sua maioria, de burocratas, cientistas, técnicos, organizadores sindicais, peritos em publicidade, sociólogos, professores, jornalistas e políticos profissionais. Esta gente, cuja origem estava na classe média assalariada e nos escalões superiores da classe operária, fora moldada e criada pelo mundo estéril da indústria monopolista e do governo centralizado. Comparada com os seus antecessores, era menos avarenta, menos tentada pelo luxo, mais faminta de poder puro e, acima de tudo, mais consciente do que fazia e mais decidida a esmagar a oposição. Esta última diferença era cardeal. Comparadas com as que existem hoje, todas as tiranias do passado foram frouxas e ineficientes. Os grupos governantes foram sempre infestados, até certo ponto, de ideias liberais, e se contentavam de deixar pontas soltas por toda parte, considerando apenas o ato patente e se desinteressando pelo raciocínio dos seus súditos. Até a igreja católica da Idade Média era tolerante, pelos padrões atuais. Em parte a razão deste fato residia na impossibilidade dos governos do passado manterem sob constante vigilância os seus cidadãos. A invenção da imprensa, contudo, tornou mais fácil manipular a opinião pública, processo que o filme e o rádio levaram além. Com o desenvolvimento da televisão, e o progresso técnico que tornou possível receber e transmitir simultaneamente pelo mesmo instrumento, a vida particular acabou. Cada cidadão, ou pelo menos cada cidadão suficientemente importante para merecer espionagem, passou a poder ser mantido vinte e quatro horas por dia sob os olhos da polícia e ao alcance da propaganda oficial, fechados todos os outros canais de comunicação.




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