1984 - Cap. 21: Capítulo XXI Pág. 285 / 309

Sonhava muito, e eram sempre sonhos alegres. Estava na Terra Dourada, ou então sentado entre enormes ruinas, gloriosas, banhadas de sol, em companhia de sua mãe, Júlia, O'Brien - sem fazer nada, apenas sentados ao sol, conversando sobre coisas pacíficas. Os pensamentos que tinha quando desperto eram principalmente relativos aos sonhos. Parecia ter perdido o poder do esforço intelectual, agora que terminara o estímulo da dor. Não estava aborrecido; não tinha o menor desejo de palestra ou distração. Bastava-lhe estar só, não ser sovado nem ser interrogado, ter bastante que comer e sentir-se limpo de corpo inteiro.

Aos poucos, ia dormindo menos, porém ainda não sentia ânimo de se levantar da cama. Tudo que lhe apetecia era ficar quieto, deitado, sentindo a força regressar ao corpo. Apalpava-se aqui e ali, procurando certificar-se de que não era ilusão o engrossamento dos seus músculos, o esticamento da pele. Por fim, constatou sem dúvida que estava engordando; as coxas estavam positivamente mais grossas que os joelhos. Depois disso, com relutância a princípio, começou a fazer exercícios regulares. Dentro em breve conseguia caminhar três quilômetros, calculados pelo tamanho da cela, e os ombros arcados estavam-se endireitando. Tentou exercícios mais complicados, e ficou parvo e humilhado de descobrir o que não podia fazer. O único movimento que podia fazer era andar; não podia segurar o mocho com o braço esticado, não podia ficar numa perna só sem cair. Punha-se de cócoras, e com dores horríveis na coxa e na barriga da perna conseguia levantar-se de novo. Deitava de barriga e tentava erguer-se do chão, usando as mãos. Inútil; não podia levantar-se um centímetro que fosse.





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