Deteve-se um instante no alto da escada. Do outro lado do beco havia um barzinho miserável cujas janelas pareciam embaciadas mas na verdade estavam apenas cobertas de pó. Um ancião arcado mas ativo, com bigode branco eriçado como um camarão, empurrou a porta e entrou. Contemplando-o, Winston de repente imaginou que o velho, que devia ter no mínimo oitenta anos, já devia ser maduro ao tempo da Revolução. Ele e uns poucos outros eram os últimos elos vivos com o desaparecido mundo capitalista. No Partido não havia muita gente que tivesse ideia formada antes da Revolução. A geração mais antiga tinha sido, na sua maioria, liquidada nos grandes expurgos das décadas de 1950 a 70, e as sobras, aterrorizadas, se haviam refugiado na mais completa submissão intelectual. Se ainda restasse vivo alguém capaz de fazer uma descrição verídica das condições na primeira metade do século, só podia ser um prole. De repente, veio à mente de Winston o trecho do livro de história que copiara no seu diário, e um impulso lunático o dominou. Entraria no bar, travaria conhecimento com o velho e o interrogaria. Haveria de pedir-lhe: "Fale-me de sua vida quando o sr. era menino. Como era, naqueles dias? As coisas eram melhores que hoje, ou eram piores?"
Apressadamente, como se tivesse receio de perder a coragem, desceu os degraus e atravessou a rua estreita. Era loucura, evidentemente. Como de praxe, não havia regulamento contra a conversa com os proles nem a frequência de seus bares, mas era ato muito fora do comum para passar despercebido.