1984 - Cap. 8: Capítulo VIII Pág. 91 / 309

Se as patrulhas aparecessem ele poderia desculpar-se dizendo que se sentira mal, porém era pouco provável que lhe dessem crédito. Empurrou a porta, e um horrendo cheiro de queijo e cerveja azeda, atingiu-o em cheio. Quando entrou o barulho das vozes diminuiu talvez a metade do volume. Por trás das costas podia sentir todo mundo a examinar-lhe o macacão. Um jogo de flechinhas ao alvo, no outro extremo da sala, interrompeu-se por uns trinta segundos. O velho que ele seguira estava no balcão, altercando com o botequineiro, um rapaz corpulento, de nariz de gancho e braços enormes. Vários fregueses do bar, com os copos na mão, observavam a cena.

- Te pedi com educação, não foi? - insistiu o velho endireitando os ombros belicosamente. - Qué me dizê que não têm uma caneca de pinta nesta birosca?

- E que demônio de troço é uma pinta? -quis saber o botequineiro, inclinando-se para a frente e apoiando-se no balcão com as pontas dos dedos.

- Oia só ele! Botequineiro que nem sabe o que é pinta! Ué, uma pinta é a metade duma quarta, e tem quatro quartas no galão. Daqui a pouco tenho que te ensiná o abc!

- Nunca escuitei falá nisso - disse o rapaz. - Litro e meio-litro... é só o que servimos. Aí estão as canecas na sua frente.

- Gosto de pinta - persistiu o velho. - Você bem que me podia servi uma pinta. Não tinha essas besteiras de litro quando eu era moço.

- Quando tu era moço nós todos morava trepado nas arve - disse o botequineiro, olhando de soslaio para os outros fregueses.

Houve uma gargalhada geral, e pareceu desaparecer o mal-estar causado pela entrada de Winston. Sob a barba branca que despontava, o velho corou violentamente. Voltou-se, falando sozinho, e tropeçou em Winston, que o segurou delicadamente pelo braço.





Os capítulos deste livro