Mas não lhe apetecia continuar... na verdade, não podia. Tocou com os dedos no dinheiro da algibeira, sem o fazer tilintar, não fosse o jovem ouvir. Dois pence e meio. Não haveria tabaco em todo o dia seguinte. Doíam-lhe os ossos.
Acendeu-se uma luz no Príncipe de Gales. Deviam estar a lavar o bar. O ancião de nariz de morango lia um romance de Edgar Wallace da caixa de dois pence. Um «eléctrico» zunia à distância. No apartamento de cima Mr. McKechnie, que raramente descia à livraria, dormitava diante do calorífero de gás, de cabelo e barba brancos, com a caixinha de rapé ao seu alcance, diante do volume in-fólio encadernado de Viagens ao Levante, de Middleton.
O jovem magro apercebeu-se' de repente de que estava só e ergueu os olhos com ar culposo. Era um habitué de livrarias, mas nunca se demorava numa mais de dez minutos. Uma fome apaixonada de livros e o receio de se tornar incomodativo achavam-se constantemente em guerra no seu íntimo.
Após dez minutos num estabelecimento, começava a impacientar-se, sentir-se de trop e bater em retirada; depois de comprar qualquer coisa sob o efeito do nervosismo. Sem proferir palavra, pegou no exemplar dos poemas de Lawrence e, em movimentos embaraçados, extraiu três florins da algibeira. Ao entregá-los a Gordon, deixou cair um. Inclinaram-se ambos simultaneamente para o recolher e as cabeças colidiram. O jovem retrocedeu um passo, corando levemente.
- Deixe-me embrulhar o livro - disse Gordon.
No entanto, o outro abanou a cabeça - tartamudeava com tanta insistência que nunca falava, se o podia evitar... Colocou o livro debaixo do braço e saiu com ar de quem acabava de cometer um acto reprovável.
Gordon ficou só, pelo que voltou a aproximar-se da porta. O ancião de nariz de morango olhou por cima do ombro, avistou-o e afastou-se, frustrado. Estivera na iminência de enfiar o Edgar Wallace no bolso. O relógio no topo do Príncipe de Gales badalou as três e um quarto.
Ding Dong! Três e um quarto.
