Ela puxou de um velho porta-moedas da algibeira da bata e pagou-lhe dois pence.
Ele afastou-se para a sala de entrada. O rapaz de cabelo trigueiro colocara o livro na prateleira errada e desaparecera. Entrou uma mulher magra, de nariz direito e ar vivo, com indumentária conservadora e luneta - talvez professora primária, de certeza feminista -, que pediu a história do movimento sufragista da autoria de Mrs. Wharton-Beverley. Foi com alegria íntima que Gordon lhe anunciou que não tinha a obra em causa. Ela fuzilou-lhe a incompetência masculina com o olhar penetrante e saiu. O jovem magro encontrava-se discretamente a um canto, o rosto mergulhado nos Poemas Escolhidos de D. H. Lawrence, como um pássaro de pernas longas com a cabeça enterrada debaixo da asa.
Gordon aguardou junto da porta. Lá fora, um ancião de roupa coçada, mas elegante, nariz em forma de morango e cachecol de caqui em torno do pescoço esquadrinhava os livros da caixa de sessenta pence. As duas damas da classe' média superior retiraram-se subitamente, deixando numerosos volumes abertos em cima da mesa. A de rosto frutífero dirigia olhares relutantes para trás em direcção aos livros de cães, porém a de semblante carilado puxou-a pelo braço, decidida a não comprar nada. Gordon abriu-lhes a porta, mas elas saíram ruidosamente sem lhe prestar atenção.
Ele viu as costas dos casacos de peles da classe média superior descerem a rua. O ancião de nariz de morango falava para consigo, enquanto examinava os livros. Presumivelmente, um pouco avariado da cabeça. Decerto palmaria algum, se não soubesse que o vigiavam. O vento arrefecera e secava a humidade do pavimento. Eram quase horas de acender as luzes. Apanhada por uma rajada, a ponta do cartaz do Molho Q. T. ondulou bruscamente, como uma peça de roupa no estendal. Ah!
Vivamente, o vento ameaçador varre
Os flexíveis choupos, recém-despidos,
E os tubos escuros das chaminés
Inclinam-se para baixo; fustigados por chicotes de ar,
Cartazes rasgados agitam-se.
Nada mau; nada mau, mesmo.