Assim, no final do terceiro dia, desistiu. Sabia que não merecia a pena insistir, e fora apenas para comprazer Ravelston que efectuara algumas diligências.
Ao fim da tarde, regressou ao apartamento, com os pés doridos e os nervos em franja resultante de uma série de rejeições. Deslocava-se sempre a pé para economizar as duas libras de Ravelston. Quando apareceu, este acabava de chegar do escritório nos baixos do prédio e sentava-se numa poltrona diante do lume, com algumas provas para rever sobre o joelho.
- Conseguiu alguma coisa? - perguntou, como de costume, levantando a cabeça.
Gordon não respondeu, de contrário proferiria uma torrente de obscenidades. Sem olhar sequer o editor, seguiu directamente para o quarto, descalçou os sapatos e deixou-se cair pesadamente na cama. Naquele momento, detestava-se solenemente. Por que voltara ali? Com que direito regressava àquele apartamento e sugava Ravelston, quando na realidade já não lhe apetecia procurar emprego? Devia ter ficado na rua, para dormir em Trafalgar Square e dedicar-se à mendicidade, pois estava disposto a tudo. No entanto, ainda não reunira coragem suficiente para se instalar nas artérias da cidade. A perspectiva de conforto e um tecto impelira-o a regressar. Conservava-se deitado, mãos sobrepostas debaixo da cabeça imerso num misto de apatia e ódio a si próprio. Cerca de meia hora mais tarde, ouviu tocar a campainha da porta e Ravelston levantar-se para ir abrir. Provavelmente era a cabra da Hermione Slater. Ravelston apresentara-lha dois dias atrás e ela olhara-o como se tivesse peste. No entanto, um momento depois, soou uma pancada na porta do quarto.