- Sim? - articulou em voz rouca.
- Uma visita para si - informou Ravelston.
- Para mim?
- Exacto. Venha à sala.
Mastigou uma imprecação e levantou-se com lentidão e relutância. Quando entrou na sala, descobriu que a visita era Rosemary. Embora previsse que acabaria por aparecer, ficou acabrunhado ao vê-la. Sabia por que viera - para o animar, mostrar compaixão, recriminá-lo. No fundo, a situação desembocava sempre no mesmo sítio. No estado de desolação e aborrecimento em que se encontrava, não queria efectuar o mínimo esforço para conversar com ela. Só desejava que o deixassem em paz. Todavia, Ravelston manifestava contentamento por vê-la. Simpatizara com a rapariga na única vez que se tinham encontrado, e esperava que a sua presença alterasse o estado de espírito de Gordon. Por conseguinte, invocou um pretexto transparente para descer ao escritório e deixou-os sós.
Quando se afastou, eles não efectuaram a menor tentativa para se beijar ou mesmo abraçar. Gordon permanecia diante do lume, os ombros descaídos, mãos afundadas nos bolsos e pés enfiados nuns chinelos de Ravelston demasiado grandes para ele. Rosemary acercou-se com certa hesitação, sem ter tirado o chapéu ou o casaco com gola de pele de cordeiro. Magoava-a vê-lo em semelhante estado. Em menos de uma semana, o seu aspecto deteriorara-se singularmente. Apresentava já o ar abatido e desesperado de quem se encontra sem trabalho. O rosto parecia mais magro e criara olheiras. Por outro lado, era óbvio que havia pelo menos vinte e quatro horas que não se barbeava.
Pousou-lhe a mão no braço, com uma ponta de embaraço, como as mulheres costumam fazer quando lhes compete tomar a iniciativa de um contacto. - Gordon...
-Sim?
Ele disparou o advérbio quase com agressividade. No instante imediato, ela achava-se nos seus braços. Mas tomara a iniciativa.
Pousou-lhe a cabeça no peito, ao mesmo tempo que desenvolvia os maiores esforços para conter as lágrimas. Por seu turno, Gordon sentia-se mais acabrunhado que nunca.