O Vil Metal - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 229 / 257

Conservou-se por longos minutos imerso num estado quase de apatia, de olhar fixo no tecto. A futilidade absoluta de estar ali deitado, sujo e frio, reconfortava-o um pouco. De súbito, porém, foi chamado à realidade por uma leve pancada na porta. Conservou-se imóvel e silencioso. Devia ser a mamã Meakin, embora a maneira de bater não parecesse a dela.

- Entre - acabou por dizer.

A porta abriu-se. Era Rosemary.

Entrou e estacou quase' imediatamente, ao aperceber-se do odor acre que saturava a atmosfera. Apesar da luz fraca da lâmpada, conseguiu descortinar a sujidade do quarto - a confusão de restos de' comida e papeis na mesa, o fogão cheio de achas apagadas, os tachos imundos no guarda-fogo e a aspidistra morta. Enquanto recomeçava a mover-se em direcção à cama, tirou o chapéu e largou-o na cadeira.

- Em que lugar vives! - proferiu a meia-voz.

- Resolveste então voltar?

- Resolvi.

Ele voltou o rosto levemente para o outro lado, com o braço a cobri-lo.

- Para me pregares mais sermões?

- Não.

- Então, para quê?

- Para...

Rosemary ajoelhou ao lado da cama, afastou-lhe o braço, moveu o rosto para a frente, a fim de o beijar, mas deteve-se, surpreendida, e começou a acariciar-lhe o cabelo sobre a têmpora com as pontas dos dedos.

- Oh, Gordon!

- O quê?

- Tens cabelos brancos!

- Tenho? Onde?

- Aqui... por cima da fronte. E são vários. Devem ter aparecido de repente.

- «As minhas madeixas douradas o tempo em prata converteu» - citou ele, com indiferença.

- Estamos os dois a ficar grisalhos.

Ela inclinou a cabeça para mostrar os três cabelos brancos na coroa. Em seguida, deitou-se ao lado dele, enfiou o braço por baixo do corpo, puxou-o para si e cobriu-lhe o rosto de beijos. Gordon não se opôs.

Não queria que aquilo acontecesse - era mesmo o que menos desejava que se verificasse -, porém Rosemary contorcera-se até se colocar debaixo dele e os corpos estavam colados, parecendo mesmo fundidos um no outro.





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