Talvez trabalhasse mesmo; pelo menos, durante algum tempo. Rebuscou entre a confusão. Onde estava aquela passagem em que se concentrara na véspera? O poema era imensamente longo - ou melhor, seria imensamente longo depois de concluído -, mais ou menos duas mil linhas, em estâncias de quatro versos, para descreverem um dia em Londres. Intitular-se-ia Prazeres Londrinos. Tratava-se de um projeto vasto, ambicioso - daqueles que só deviam ser surpreendidos por pessoas com tempo livre interminável. Gordon não se apercebera desse facto quando iniciara o poema, mas agora achava-se bem ciente disso. Com que despreocupação o encetara, dois anos atrás! Quando abandonara tudo e descera ao lodo da pobreza, a conceção daquele poema constituíra ao menos uma parte da sua motivação. Na altura, estava absolutamente seguro de se achar capacitado para tal. Não obstante, os Prazeres Londrinos tinham corrido mal desde o princípio. Era um empreendimento demasiado grande para ele, verdade que não podia refutar. Nunca progredira realmente e limitara-se a separar-se numa série de fragmentos. E, após dois anos de trabalho, apenas podia apresentar aquilo: meros fragmentos, incompletos em si e impossíveis de reunir.