embrulhados em papel de jornal para evitar que tilintassem.
Ele tinha uma maneira de proceder habitual para fazer chá. Primeiro, enchia a chaleira de água do jarro do lavatório e colocava-a na lamparina de petróleo. A seguir, ajoelhava-se e estendia uma folha de jornal. As folhas de chá da véspera ainda se encontravam no bule, evidentemente. Sacudiu este voltado para baixo, a fim de que caíssem no jornal, limpou o bule com o polegar e dobrou as folhas, para as levar para baixo, mais tarde. Essa parte era sempre a mais arriscada: desembaraçar-se das folhas de chá usadas. Lembrava a dificuldade experimentada pelos assassinos para fazerem desaparecer o corpo da vítima. Quanto à chávena, lavava-a sempre na bacia do lavatório, de manhã. Uma coisa sórdida. Às vezes, enojava-o. Era estranho O' modo furtivo como uma pessoa tinha de viver na pensão de Mrs. Wisbeach. Pairava a impressão de que ela estava sempre à espreita, e, com efeito, costumava subir e descer a escada em bicos dos pés a todas as horas, na esperança de surpreender os hóspedes em atividades clandestinas.
Era uma daquelas casas em que nem sequer se' podia ir à retrete descansado, devido à sensação de que alguém espreitava.
Gordon voltou a entreabrir a porta e escutar atentamente'. Nem o mais leve som. Ah, o ruído isolado de loiça ao longe! Mrs. Wisbeach lavava a do jantar. Nesse caso, talvez não houvesse perigo em ir lá abaixo.
Desceu em silêncio, segurando o maço de folhas de chá molhadas contra o peito. A retrete situava-se no segundo andar. No ângulo da escada, deteve-se e apurou os ouvidos por um momento. Ah, novo som de loiça!
Caminho livre! Gordon Comstock, poeta («excecionalmente prometedor», segundo o suplemento literário do Times), deslizou rapidamente para a retrete, largou as folhas de chá na sanita e puxou a corrente do autoclismo. Em seguida, voltou apressadamente para quarto, tornou a trancar a porta e, tornando precauções contra o barulho, preparou o chá.
Entretanto, o quarto podia considerar-se sofrivelmente quente.