O Vil Metal - Cap. 4: Capítulo 4 Pág. 50 / 257

Gordon continuava com o egoísmo da adolescência acerca do dinheiro. No escritório, desembaraçava-se sofrivelmente. Diziam que merecia o que ganhava, mas não era o tipo dos que Triunfavam. De certo modo, o desprezo absoluto que sentia pelo trabalho que executava facilitava-lhe a vida. Suportava a incaracterística vida no escritório, porque nem por um instante a julgava permanente. De uma maneira ou de outra, um dia, só Deus sabia como ou quando, libertar-se-ia. Aliás, restava-lhe sempre a «escrita», e' um «escritor» considerava-se sem dúvida livre do flagelo do dinheiro. Os espécimes que via à sua volta, em particular os mais velhos, faziam-no estremecer de repulsa. Era aquilo que representava venerar o deus-dinheiro? Arranjar uma ocupação estável, Triunfar, vender a alma por urna moradia e uma aspidistra!

Converter-se no insignificante de chapéu de coco típico - O «homenzinho» de Strube -, o dócil cidadão que regressa a casa às seis e um quarto para comer empadão de carne e pêras de conserva ao jantar, escuta meia hora do concerto sinfónico da B. B. C. e depois talvez se dedique a um pouco de contacto sexual com a esposa, se ela «está com disposição»! Que destino! Não, não era para aquilo que uma pessoa vinha ao mundo. Precisava de se libertar, isolar-se da imundície do dinheiro. Acarinhava na mente uma espécie de conluio. Concentrava-se Inteiramente naquela guerra contra o dinheiro. Mas era secreta, por enquanto. Os colegas do escritório não suspeitavam das suas ideias menos ortodoxas. Nem sequer sabiam que escrevia poesia, conquanto não houvesse muitos indícios para se inteirarem, pois em seis anos tivera menos de vinte' poemas publicados em revistas. Exteriormente, não diferia de qualquer outro mangas-de-alpaca da City - um mero soldado do exército que o arrastava para leste de manhã e para oeste ao fim do dia, nas carruagens do metropolitano.

Tinha vinte e quatro anos quando a mãe morreu. A família desmembrava-se. Restavam apenas quatro Comstock da geração mais velha: as tias Ângela e Charlotte, o tio Walter e outro que faleceu no ano seguinte.





Os capítulos deste livro