poesias, embora reconhecesse para consigo que se tratava de uma possibilidade demasiado absurda para ser mencionada. No entanto, de qualquer modo, não enveredaria pelo mundo dos negócios, do dinheiro. Arranjara um emprego, mas não um «bom» emprego. A família não fazia a menor ideia do que pretendia dizer. A mãe chorava, a própria Júlia se insurgia, e à volta dele, só havia tios e, tias (ainda restavam seis ou sete) que o increpavam com insistência. E, transcorridos três dias, aconteceu uma coisa horrível. A meio do jantar, a mãe foi assolada por um violento ataque de tosse, levou a mão ao peito, caiu para a frente e começou a deitar sangue da boca.
Gordon ficou aterrorizado. A mãe afinal não morreu, mas parecia moribunda quando a levaram para o quarto. Ele apressou-se a ir chamar o médico e, por vários dias, ela permaneceu às portas da morte, Era o resultado de frequentar salas com correntes de ar e percorrer as ruas debaixo de chuva e vento glacial. Gordon movia-se pela casa com desespero dominado por uma pesada sensação de culpa e anarquia.
Embora não o soubesse com exactidão, adivinhava vagamente que a mãe se matara para lhe custear os estudos. Depois daquilo, não podia continuar a opor-se-lhe. Procurou o tio Walter e anunciou-lhe que aceitava o emprego na firma de- zarcão, se ainda estivesse disponível. Por conseguinte, o tio falou com o amigo, que contactou com o seu amigo, e Gordon foi entrevistado por um indivíduo idoso com dentadura postiça mal adaptada, que lhe concedeu um período de experiência. Gordon começou por ganhar vinte e cinco xelins por semana e conservou-se na casa seis anos.
Abandonaram Acton e instalaram-se num desolador bloco de apartamentos, algures no bairro de Paddington. Mrs. Cosmock levou o piano, e quando recuperou parte da abalada saúde, recomeçou a dar lições ocasionalmente. Entretanto, o ordenado de Gordon foi aumentado gradualmente, e os três «governavam-se» de um modo razoável. Na realidade, eram Júlía e a mãe que se ocupavam da maior parte: do «governo».