Durante algum tempo - muito pouco-, teve a ilusão de se haver desembaraçado por completo do mundo do dinheiro. Sem dúvida que o negócio dos livros era uma burla, como todos os outros, mas totalmente diferente. Aí, não havia competição, ânsia de Triunfar, adulação repelente. Nenhum indivíduo empreendedor aguentaria dez minutos na atmosfera de ar viciado de uma livraria. Quanto ao trabalho em si, era muito simples - principalmente uma questão de permanecer no estabelecimento dez horas por dia. Mr. McKechnie não se podia considerar má pessoa. Apesar de escocês, não possuía qualquer característica execrável. Achava-se razoavelmente livre de avareza e o seu traço mais saliente parecia consistir na indolência. Além disso, era abstémio e pertencia a uma seita não-conformista qualquer, porém esse pormenor não afectava Gordon. Havia um mês que trabalhava na livraria, quando Ratos foi publicado.
As respectivas críticas apareceram em nada menos de treze jornais! E o suplemento literário do Times reconheceu que revelava uma «promessa excepcional». Somente meses mais tarde ele' compreendeu que Ratos constituíra um verdadeiro desaire.
E apenas agora, quando estava reduzido a duas libras semanais e se isolara praticamente da perspectiva de vir a ganhar mais, abarcava a verdadeira natureza da batalha que travava. O pior é que o clarão da renúncia nunca perdura. A vida com duas libras por semana deixa de ser um gesto heróico para se converter num hábito indesejável. O malogro é uma burla tão grande como o êxito. Ele voltara as costas ao seu «bom» emprego e renunciara a «bons» empregos para sempre. Bem, fora necessário. Não queria reconsiderar. Em todo o caso, não servia de nada fingir que, em virtude de a sua pobreza ser auto-imposta, se libertara dos males que ela arrasta na sua esteira, Não se tratava de uma questão de privações. Não se sofrem privações reais com duas libras semanais e, de qualquer modo, importaria pouco. É no cérebro e na alma que a falta de, dinheiro produz estragos.