O Vil Metal - Cap. 5: Capítulo 5 Pág. 77 / 257

A droga apropriada para os indivíduos sem amigos. Quando se aproximava do Palace Theatre, uma mulher de reputação duvidosa, de sentinela à entrada, apercebeu-se dele, marcou-o como alvo e barrou-lhe o caminho. Parecia cordial e, como raramente acontece nas prostitutas, alegre. Por um momento, ele refreou o andamento e até se permitiu olhá-la. Ela fitou-o igualmente, preparada para exibir um largo sorriso. Por que não parar e conversar com ela? A rapariga dava a impressão de poder compreendê-lo. Mas não! Não tinha dinheiro. Por conseguinte, desviou o olhar e evitou-a com a precipitação de um homem a quem a pobreza torna virtuoso. Como ficaria furiosa se ele parasse e depois descobrisse que não tinha dinheiro! Assim, afastou-se. Até para conversar é preciso dinheiro.

Ao longo de Tottenham Court Road e Camden Road, num percurso cada vez mais penoso. Passou a caminhar mais devagar, arrastando um pouco os pés. Percorrera quase vinte quilómetros de pavimentes. Cruzou-se com mais moças, que não o viram. Sós, com adolescentes, com outras moças, sós. Os seus olhos juvenis cruéis percorriam-no e atravessavam corno se não existisse, mas sentia-se demasiado cansado para se melindrar. Os ombros renderam-se à sua fadiga e encolheu-os, já sem estar interessado em preservar a postura empertigada e ar de vão-se-matar. Fogem de mim aqueles que dantes me procuravam. Não as podia censurar. Tinha trinta anos, carcomido pelo tempo e desprovido de encanto.

Por que razão haveria uma jovem de olhar para ele duas vezes?

Reflectiu que devia seguir para «casa» imediatamente, se queria comer, pois Mrs. Wisbeach recusava servir refeições depois das nove da noite. No entanto, a perspectiva do quarto frio sem mulher repugnava-o. Subir a escada, acender o gás, debruçar-se sobre a mesa com horas para matar e nada para fazer, ler, fumar - não, era insuportável. Em Camden Town, os botequins estavam cheios e ruidosos, embora fosse apenas quinta-feira. Três mulheres, de braços avermelhados, atarracadas como as canecas que tinham na mão, encontravam-se à entrada de um dos estabelecimentos, a conversar.