O Vil Metal - Cap. 6: Capítulo 6 Pág. 92 / 257

- É apenas por atravessarmos um mau momento. Temos de morrer para renascer, se compreende aonde pretendo chegar.

- A morrer já estamos todos. E confesso que não vejo sinais do nosso renascimento.

Ravelston apertou o nariz entre o polegar e o indicador, antes de argumentar:

- Precisamos de ter fé, acho eu. E esperança.

- Quer você dizer que precisamos de ter dinheiro - contrapôs Gordon, com uma expressão sombria.

- Dinheiro?

- É o preço do optimismo. Suponho que, se me dessem cinco libras por semana, também seria socialista.

Ravelston conservou-se silencioso, descoroçoado. Aquela história do dinheiro!... Para onde quer que se voltasse, esbarrava nele, O dinheiro é a única coisa que não devemos mencionar, quando nos encontramos entre pessoas mais ricas do que nós. Ou, se o fazemos, convém ser de um modo abstracto, dinheiro com "D" maiúsculo e não o concreto que temos nos bolsos e não nos pertence.

Não obstante, o malfadado tema atraía-o como um íman. Mais cedo ou mais tarde, em particular quando tinha algumas bebidas no estômago, começava invariavelmente a referir-se com pormenores de autocomiseração aos horrores da vida com duas libras semanais. Às vezes, impelido pela pressão nervosa para dizer o que não devia, saía-se com a mesma sórdida confissão – como, por exemplo, que havia dois dias que estava sem tabaco ou que a roupa interior apresentava buracos ou ainda que empenhara o sobretudo. Decidiu, porém, que não sucederia nada disso naquela noite. Abandonaram subitamente o tópico do dinheiro e passaram a conversar de um modo mais generalizado acerca do socialismo. Havia anos que Ravelston tentava converter Gordon, sem conseguir criar-lhe' interesse. Em dado momento, passaram diante de um pouco atraente botequim na esquina de um beco, sobre' o qual parecia pairar uma nuvem rançosa. O odor revoltou as entranhas de Ravelston, que fez menção de estugar o passo para se afastar, porém Gordon deteve-se e experimentou uma espécie de cócegas nas narinas.

- Uma bebida não calhava mal.

- Sou da mesma opinião - admitiu o outro: cortesmente.





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