Sangue Azul - Cap. 10: 10 Pág. 102 / 287

Sim, ele fizera isso. Ela estava na carruagem e tinha consciência de que ele a colocara lá, de que a sua vontade e as suas mãos tinham feito isso, que o devia à percepção dele da sua fadiga e à sua resolução de lhe proporcionar repouso. Comoveu-a muito dar-se conta da sua disposição a seu respeito, tornada aparente por todas estas coisas. Esta pequena circunstância pareceu o culminar de tudo quanto acontecera antes. Anne compreendeu-o. Ele não lhe podia perdoar, mas era incapaz de ser insensível. Apesar de a condenar pelo passado, de considerá-lo com elevado e injusto ressentimento, apesar de ela lhe ser absolutamente indiferente e estar a ficar preso a outra, mesmo assim não podia vê-la sofrer sem sentir o desejo de lhe dar lenitivo. Eram resíduos de um sentimento anterior, era um impulso de pura, ainda que não admitida, amizade, era uma prova de que tinha um coração terno e afável, era, em suma, a demonstração de coisas em que ela não podia pensar sem emoções tão feitas de prazer e dor que não sabia qual prevalecia, se o primeiro, se a segunda.

As suas respostas à amabilidade e aos comentários dos seus companheiros foram, no início, dadas inconscientemente. Tinham percorrido metade do caminho pela acidentada azinhaga antes de a sua atenção estar inteiramente desperta para o que diziam. Descobriu então que falavam de «Frederick».

- Ele tem com certeza a intenção de ficar com uma daquelas duas raparigas, Sophy - dizia o almirante -, mas não é possível saber qual. E eu acho que já anda atrás delas há tempo suficiente para se decidir. Isso é resultado da paz. Se estivéssemos em guerra, há muito que teria resolvido o assunto. Nós, marinheiros, Miss Elliot, não nos podemos dar ao luxo de fazer cortes demoradas em tempo de guerra.





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