Sangue Azul - Cap. 20: 8 Pág. 207 / 287

É um homem inteligente, um homem de leituras, e confesso que considero com alguma surpresa o seu afecto por ela. Se tivesse sido o efeito da gratidão, se ele tivesse aprendido a amá-la por estar convencido de que ela o preferia, seria outra coisa. Mas não tenho nenhuma razão para supor que se trata disso. Parece-me, pelo contrário, que foi um sentimento absolutamente espontâneo e natural da parte dele, e isso surpreende-me. Um homem como ele, na sua situação! Com o coração trespassado, ferido, quase despedaçado! Fanny Harville era uma mulher muito superior, e o seu afecto por ela era realmente genuíno. Um homem não se refaz de uma devoção do coração por uma tal mulher! Não deve refazer-se, não se refaz.

Depois, no entanto, fosse pela consciência de que o seu amigo se refizera, fosse por consciência de qualquer outra coisa, não foi mais longe. E Anne, que, apesar da voz agitada em que a última parte das palavras dele tinha sido dita, e apesar de todos os vários ruídos da sala, do quase incessante bater da porta e da constante zoada das pessoas que passavam, tinha ouvido perfeitamente cada uma dessas palavras, estava paralisada, gratificada e confusa, começava a respirar muito depressa e sentia uma centena de coisas num só momento. Era-lhe impossível abordar tal assunto. Contudo, após uma pausa, sentindo necessidade de falar e não tendo o mínimo desejo de uma substituição total do tópico, mudou de assunto apenas o necessário para dizer:

- Suponho que esteve bastante tempo em Lyme?

- Cerca de quinze dias. Não pude partir enquanto não ficou completamente assegurado que a Louisa se restabeleceria. Estava implicado de mais no mal feito para tão cedo me poder sentir em paz. Fora obra minha, exclusivamente minha. Ela não teria sido obstinada se eu não tivesse sido fraco.





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