Erguida, enorme, transformada em flor a dor que as suas raízes tinham bebido. Com um grito o Pita viu o Gabiru pendurado num ramo.
Namorara sempre, depois do escárnio da Mouca, aquela Árvore, cismando num encontro etéreo para depois da cova. A tísica, nos últimos dias, quando a morte a tocara, não tirava dos troncos despidos o olhar absorto.
– Aquela Árvore – dizia – aquela Árvore...
Não sei se repararam... As criaturas mesmo antes da agonia pertencem mais a um outro mundo do que à terra. A matéria está já toda embebida de mistério, há mais luz do que noite... As coisas que pertencem ao corpo emudecem e põem-se a falar dentro em nós a poeira de astros de que é feita a alma.
– A Árvore! A Árvore!... – dizia ela para Sofia.
– Donde nasce aquilo – olhe – que a faz tremer?
Engrossa e de noite irradia luz... Lembra-se do ano passado que pra ali veio um passarito morar? E da sua voz? Parecia água a cair...
Quando para sempre a levaram o Gabiru mergulhou na dor. Isolou-se mais. Monologava e os olhos esqueciam-se-lhe nos sítios que ela amara. As noites tinham já esse encanto que alheia, cheias de gritos, de vida no escuro, de palores esquecidos...
Altas horas à janela, todo o céu pontilhado de estrelas, ouviu soluços na quietude da noite. Caía um luar enorme e a treva tácita parecia esperar escutando.
Só muito ao longe, no silêncio que lhe pareceu pressago, dir-se-ia que uma nascente deixara correr um fio de água – só um fio.