» Deve imaginar com que ansiedade o ouvia, Watson. Pois a verdadeira oportunidade pela qual suspirara durante todos esses meses de inacção parecia estar agora ao meu alcance. No mais íntimo do coração eu julgava poder triunfar onde outros tinham fracassado, e agora tinha ocasião de me pôr à prova.
«- Por favor, dê-me os pormenores!» - exclamei.
» Reginald Musgrave sentou-se à minha frente e acendeu um cigarro que lhe passei.
«- Você sabe que, embora celibatário, tenho de manter um número de pessoal considerável em Hurlstone. Trata-se de um casarão muito esparramado, que exige muito trabalho. E conservo-o também porque nos meses do faisão temos habitualmente uma festa em casa, para que nessa altura não haja falta de pessoal. Há em permanência oito criadas, uma cozinheira, um mordomo, dois lacaios e um moço. A quinta e os estábulos têm pessoal separado, evidentemente.
«Desses criados, aquele que tinha estado por mais tempo ao nosso serviço era Brunton, o mordomo. Era um jovem professor desempregado quando pela primeira vez foi contratado por meu pai. Sendo um homem de grande energia e carácter, logo se tornou inteiramente indispensável em casa. Era de boa estatura, bem parecido, com uma esplêndida fronte e, embora houvesse quase vinte anos que estava connosco, não podia ter agora mais de quarenta anos. Com as suas inclinações naturais e com os extraordinários dotes que possuía, pois sabia falar diversas línguas e tocar quase todos os instrumentos musicais, era espantoso que se contentasse durante tanto tempo com tal posição. Suponho que por comodismo e porque lhe faltava energia para qualquer mudança. O mordomo de Hurlstone é sempre o mais lembrado por todos os que nos visitam.