As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 1: O Estrela de Prata Pág. 17 / 274

- Não percebo como não o vi - disse o inspector, com uma expressão de mágoa.

- Porque estava invisível, enterrado no barro. Eu só o vi porque estava à procura dele.

- O quê! Esperava encontrá-lo?

- Não o julguei improvável.

Tirou as botas da sacola e comparou as impressões de cada uma delas com as marcas do chão. Então trepou o barranco da cova e arrastou-se por entre as sarças e os arbustos.

- Receio que não haja mais vestígios - disse o inspector. - Examinei o chão com todo o cuidado cem jardas em redor.

- Tem razão - respondeu Holmes, levantando-se. - Não devo ter a impertinência de o examinar outra vez depois do que o senhor me diz. Mas gostaria de andar um pouco pela charneca antes de escurecer, para ficar a conhecer bem o terreno, e parece-me que vou levar esta ferradura na algibeira, para me dar sorte.

O coronel Ross, que tinha manifestado sinais de impaciência com o método calmo e sistemático do meu companheiro, olhou para o relógio.

- Quero que o senhor volte comigo, inspector - disse. - Há vários pontos sobre que gostaria de conversar consigo, especialmente quanto a se devo ou não retirar o nome do nosso cavalo na inscrição da taça.

- É claro que não - interrompeu Holmes, com decisão. - Eu deixaria ficar o nome.

O coronel fez uma vénia.

- Alegra-me muito a sua opinião - disse. - O senhor poderá encontrar-nos em casa do pobre Straker quando terminar as suas voltas e iremos juntos, de carro, para Tavistock.

Enquanto ele se retirava com o inspector, Holmes e eu iniciávamos o nosso lento passeio pela charneca. O Sol começava a descer por detrás dos estábulos de Mapleton e a extensa planície inclinada na nossa frente tingia-se de ouro que, ao longe, adquiria a tonalidade de um castanho forte e rosado que os tojos sorviam como uma água luminosa.





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