Eu estava cansado da nossa salinha de estar, e alegremente acedi.
Andámos seguramente três horas juntos, observando o caleidoscópio da vida em constante mudança, em fluxos e refluxos, na Fleet Street e no Strand. A agradável conversa de Holmes, com a sua capacidade de observação acutilante dos pormenores e o seu poder de dedução, entretinha-me e deixava-me fascinado.
Eram dez horas quando regressámos a Baker Street. Uma carruagem esperava à nossa porta.
- Hum! Um médico! Um clínico geral, claro - disse Holmes. Não está há muito tempo na clínica, mas tem muito que fazer. Vem consultar-nos, creio. Que sorte já termos voltado!
Estava suficientemente familiarizado com os métodos de Holmes para lhe poder seguir o raciocínio e ver que a natureza e o estado dos vários instrumentos médicos, na cesta de vime que estava pendurada sob a luz de uma lâmpada do lado de dentro da carruagem, lhe tinham fornecido os dados para a sua rápida dedução. A luz que havia na nossa janela mostrava que uma última visita estava, com efeito, à nossa espera. Com alguma curiosidade quanto ao motivo que nos trouxera um colega a tal hora, segui Holmes até ao nosso santuário.
Um homem pálido, de rosto delgado e com barbas avermelhadas, levantou-se do seu lugar ao lado da lareira quando entrámos. A sua idade não podia ser de mais de trinta e três a trinta e quatro anos, mas a sua expressão macilenta e a sua tez doentia falavam de uma vida que fora difícil e despojada da sua juventude. As suas maneiras eram nervosas e acanhadas, como as de um cavalheiro sensível, e a fina mão branca que apoiou na prateleira da lareira, quando se levantou, era mais de um artista do que de um cirurgião.