As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 8: O Paciente Internado Pág. 179 / 274

»Já lhe disse que Mr. Blessington escolhe geralmente essa hora do dia para o seu passeio. Entrou logo de seguida e subiu. Um instante depois ouvi-o descer a correr e irrompeu dentro do consultório como um homem que está morto de medo.

«- Quem esteve no meu quarto?» - gritou. «- Ninguém» - disse-lhe.

«- É mentira!» - berrou. «- Venha cá acima e veja.»

»Não me importei com a grosseria da sua linguagem porque o homem parecia desvairado. Subindo aos seus aposentos, mostrou-me diversos rastos no tapete claro.

«- Quer dizer que são meus?» - bradou.

»Eram certamente muito maiores do que os que ele pudesse fazer.

»Como o senhor sabe, choveu esta tarde e os meus pacientes foram os únicos a aparecer. É caso para se pensar que o homem que ficara na sala de espera tivesse subido aos aposentos do meu paciente internado enquanto eu estava ocupado com o outro. Nada fora tocado ou levado, mas havia as marcas para provar que a intrusão era um facto indiscutível.

»Mr. Blessington parecia mais excitado com o assunto do que eu julgara possível nele, embora fosse, decerto, o suficiente para perturbar a paz de qualquer pessoa. Sentou-se numa cadeira a gritar e foi com dificuldade que o levei a falar coerentemente. Vim procurá-lo a seu conselho e vi logo o acerto desta sugestão, porque o incidente é na verdade muito singular, embora me pareça que ele lhe exagera a importância. Se quiser aproveitar o meu carro, o senhor poderá acalmá-lo, embora eu creia que não possa explicar esta misteriosa ocorrência.

Sherlock Holmes ouviu esta longa narrativa com uma atenção que me provou que o seu interesse fora vivamente despertado. O seu rosto estava impassível como sempre, mas as sobrancelhas tinham descaído mais pesadamente sobre os olhos e a fumaça do seu cachimbo subia para o ar em espirais mais espessas, acentuando cada episódio curioso da narração do médico.





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