»Não lhe consigo transmitir a repulsa e o horror inspirados por aquele homem de aspecto insignificante. Pude vê-lo melhor, naquele momento, quando a luz do candeeiro brilhou sobre ele. As suas feições eram macilentas e pálidas e a barba, pequena e pontiaguda, era mal cuidada. Empurrava a cara para a frente ao falar e os lábios e pálpebras contorciam-se continuamente, como quem sofre da doença de São Vito. Não podia deixar de pensar que o seu risinho pérfido era também um sintoma de uma doença nervosa, mas o terror do seu semblante concentrava-se-lhe nos olhos cor de aço, friamente brilhantes, com uma crueldade maligna e inexorável nas suas profundezas.
«- Se o senhor falar, saberemos» - disse ele. «- Temos os nossos próprios meios de informação. Pronto, a carruagem está à sua espera e o meu amigo cuidará de si durante o caminho.»
»Precipitei-me para o vestíbulo e depois para dentro do veículo, tendo uma vez mais uma fugaz visão de árvores e de um jardim. Sr. Latimer seguiu rente aos meus calcanhares e instalou-se na minha frente, sem dizer palavra. Em silêncio, tornámos a percorrer aquela interminável distância, com as janelas cerradas, até que, por fim, pouco depois da meia-noite, a carruagem parou.
«- O senhor tem de se apear aqui, Sr. Melas» - disse o meu companheiro. «- Sinto deixá-lo tão longe de casa, mas não há outra alternativa. Qualquer tentativa da sua parte para seguir o carro só lhe poderá trazer dissabores.»
»Abriu a porta enquanto falava; mal saltei para o chão, o cocheiro chicoteou o cavalo e a carruagem partiu a trepidar. Olhei em volta com espanto. Estava num terreno salpicado de urzes e de moitas de arbustos.