As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 10: O Tratado Naval Pág. 237 / 274

Fiquei à escuta durante algum tempo, sem perceber do que se tratava. O ruído tornou-se então mais alto e, subitamente, veio da janela o estalido de um corte metálico. Sentei-me, espantado; já não podia haver dúvidas quanto aos sons: os fracos tinham sido causados por alguém que tentava introduzir um instrumento na fenda dos caixilhos e os mais fortes ao fazer pressão no trinco.

»Houve então uma pausa de cerca de dez minutos, como se alguém se estivesse a certificar se o barulho me teria acordado. Depois ouvi um ranger suave quando a janela foi, por fim, aberta. No estado de nervos em que me encontro, não pude suportar aquilo por mais tempo e, saltando da cama, corri à janela e abri as persianas. Um homem estava acocorado à janela, mas mal o vi, porque fugiu com a rapidez de um raio. Vi, no entanto, que estava embuçado numa espécie de capa que lhe cobria a parte inferior do rosto. Mas de uma coisa estou certo: é de que tinha uma arma na mão, uma comprida faca, talvez. Vi-lhe distintamente o brilho quando se voltou para fugir.

- Isso é muito interessante - disse Holmes. Diga-nos, por favor, o que fez então.

- Se estivesse mais forte, tê-lo-ia perseguido, saltando pela janela aberta. Mas, assim, limitei-me a tocar a campainha e acordar toda a casa. Levou um certo tempo, porque a sineta está instalada na cozinha e os criados dormem lá em cima. Então gritei e isso alertou Joseph, que acordou os outros. Ele e o criado descobriram rastos nos canteiros de flores, do lado de fora da janela, mas o tempo tem estado tão seco que lhes foi impossível seguir o rasto na relva. No entanto, dizem eles, há um sítio na cerca de madeira que ladeia a estrada que mostra umas marcas, como se alguém tivesse saltado e partido a ponta da estaca ao fazê-lo.