Um Estudo em Escarlate - Cap. 13: 6 - Uma Continuação das Memórias do Dr. John Watson Pág. 112 / 127

- Certamente que existe - respondi.

- Nesse caso é obviamente o nosso dever aceitar o depoimento dele no interesse da justiça - disse o inspector. Sir, pode fazer a sua exposição, mas aviso-o outra vez de que ela será registada.

- Se me permitem, sentar-me-ei - disse o preso, pondo em prática o que dissera. - O meu aneurisma fatiga-me facilmente, e a luta que travámos há meia hora não melhorou a situação. Estou à beira da sepultura e não é provável que lhes minta. Tudo o que disser é absolutamente verdade e o que fizerem com as minhas palavras é assunto que não me interessa.

Com estas palavras Jefferson Hope reclinou-se na cadeira e começou o extraordinário depoimento que se segue. Falou calma e metodicamente, como se os acontecimentos que narrava fossem triviais. Posso garantir a fidelidade do relato junto em anexo, porque tive acesso à agenda de Lestrade, na qual foram registadas as palavras do preso tal como foram proferidas.

- Para os senhores não tem muita importância o motivo por que odiava estes homens - disse ele. - Só que eles eram culpados da morte de dois seres humanos, um pai e uma filha, e por isso tinham perdido o direito de viver. Depois do lapso de tempo que passou desde o crime, era-me impossível conseguir a condenação deles em qualquer tribunal. Todavia, sabia que eram culpados e decidi que deveria ser, simultaneamente, juiz, júri e executor. Os senhores teriam feito o mesmo, se tivessem alguma coragem dentro de vós, se estivessem no meu lugar.

»Aquela rapariga de que falei era para ter casado comigo há vinte anos. Foi obrigada a casar com o Drebber, o que lhe destroçou o coração. Tirei-lhe a aliança do dedo sem vida e jurei que os últimos pensamentos dele seriam do crime por que era punido. Trouxe-a sempre comigo, e segui-o a ele e ao cúmplice através de dois continentes, até que os apanhei. Eles pensavam arrasar-me, mas não o conseguiram. Se morrer amanhã, o que é muito provável, morro com a consciência de que o meu trabalho neste mundo está concluído e bem concluído. Eles pereceram, mas às minhas mãos.





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