Um Estudo em Escarlate - Cap. 3: 3 - O Mistério de Lauriston Gardens Pág. 29 / 127

Reparei que o papel caíra em parte. Nesse mesmo canto da sala desprendera-se um grande bocado, deixando à mostra um quadrado amarelo de reboco grosseiro. De um lado ao outro deste espaço descoberto fora rabiscada uma palavra em letras vermelho-sangue:

RACHE

- Que pensam disto? - gritou o detective, com o ar de um artista a apresentar o seu espectáculo. - Isto passou despercebido, porque estava no canto mais escuro da sala, e ninguém pensou procurar ali. O assassino escreveu aquilo com o seu próprio sangue, dele ou dela. Vejam este borrão onde escorreu pela parede abaixo! De qualquer modo aquilo leva a pensar em suicídio. Por que escolheram aquele canto para escreverem nele? Eu digo-lhes, vêem aquela vela em cima da prateleira do fogão. Estava acesa nessa altura, e se estava acesa este canto seria o mais iluminado, em vez da parte mais escura da parede.

- E que é que isso significa agora que o descobriu? - perguntou Gregson num tom de voz deprecatório.

- Que significa? Mas, significa que a pessoa que a escreveu ia pôr o nome Rachel, mas foi perturbado antes de ele ou ela ter tido tempo de terminar. Prestem atenção às minhas palavras, quando este caso estiver para ser deslindado, constatarão que uma mulher de nome Rachel está implicada nele. Faz muito bem em rir, Sr. Sherlock Holmes. Pode ser muito espirituoso e esperto, mas o cão velho é o melhor, quando tudo está dito e feito.

- Queira desculpar-me! - disse o meu companheiro, que irritara o homenzinho ao desatar a rir à gargalhada. - Não há dúvida de que você foi o primeiro a descobrir isto e, como diz, tem todo o aspecto de ter sido escrito pelo outro participante no mistério de ontem à noite. Ainda não tive tempo para examinar este compartimento, mas, se mo permite, farei isso agora.

Enquanto falava, tirou do bolso uma enorme fita métrica de metal e uma lupa. Com estes dois instrumentos percorreu a passo rápido o compartimento, sem fazer barulho, parando às vezes, ajoelhando-se ocasionalmente e deitando-se uma vez no chão de cara para baixo.





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