Era uma área que conhecia bem e não precisei que me orientassem quando subimos a gelada escadaria de pedra e descemos o corredor comprido com a sua galeria de paredes caiadas de branco e portas castanho-escuras. Perto do extremo oposto uma passagem baixa e abobadada bifurcava-se e conduzia ao laboratório de química.
Este era um compartimento enorme, orlado e juncado de inúmeros frascos. Mesas largas e baixas estavam espalhadas por toda a parte, repletas de retortas, tubos de ensaio e pequenos bicos de Bunsen com chamas azuis tremulantes. Havia apenas um estudante na sala, que se debruçava sobre uma mesa afastada, absorto no trabalho. Ao ouvir os nossos passos, relance ou o olhar pela sala e pôs-se direito, de um salto, com um grito de alegria.
- Descobri! Descobri! - gritou para o meu companheiro, correndo para nós com um tubo de ensaio na mão. - Descobri um reagente que se separa através da hemoglobina, e não por outra coisa qualquer. - Tivesse ele descoberto uma mina de ouro, e o seu rosto não poderia irradiar mais alegria.
- Dr. Watson... Sr. Sherlock Holmes - disse Stamford, apresentando-nos.
- Como está? - disse ele, cordialmente, apertando-me a mão com uma tal força que não imaginava que pudesse ter. - Vejo que esteve no Afeganistão.
- Como é que soube? - perguntei, surpreendido.
- Não tem importância - disse ele, soltando um riso abafado. - Agora a questão é a respeito da hemoglobina. Certamente compreende o significado desta minha descoberta?
- É interessante, sem dúvida, sob o aspecto químico respondi -, mas sob o aspecto prático...
- Mas, homem, de há anos a esta parte é a descoberta médico-legal mais prática. Não vê que nos dá um teste infalível para as manchas de sangue. Agora, chegue-se aqui! - Na sua impaciência agarrou-me pela manga do casaco e puxou-me até junto da mesa onde estivera a trabalhar. - Arranjemos um pouco de sangue novo - disse ele, espetando um furador no dedo e tirando para uma pipeta a gota de sangue resultante. - Agora adiciono esta pequena porção de sangue a um litro de água.
