Um Estudo em Escarlate - Cap. 8: Segunda Parte: 1 - Na Imensa Planície de Alcali Pág. 72 / 127

Os jovens desmontaram num instante, prenderam os cavalos e subiram a encosta íngreme que conduzia ao objecto que suscitara a sua curiosidade.

Avançaram rápida e silenciosamente, com a ousadia e a destreza de batedores experimentados. Os que ficaram de sentinela na planície podiam vê-los a saltar de rochedo em rochedo, até os seus perfis sobressaírem na linha do horizonte. O jovem que primeiro dera o alarme indicava-lhes o caminho. De repente, os que o seguiam viram-no levantar os braços como se se tivesse deixado dominar pela estupefacção, e os outros ao chegarem perto dele ficaram surpreendidos com o que viram.

No pequeno planalto que coroava a colina árida erguia-se uma pedra gigantesca; encostado a este bloco, estava um homem alto, com barbas compridas e feições duras, mas extremamente magro. O rosto plácido e a respiração normal indicavam que estava a dormir profundamente. Ao lado dele estava deitada uma criança pequena, com os braços roliços e brancos a cingirem-lhe o pescoço forte e tostado do sol e o seu cabelo loiro caído no peito da túnica de belbutina. Os seus lábios rosados estavam apartados, deixando à mostra a linha regular de dentes brancos como a neve; um sorriso divertido brincava no rosto infantil. As pernitas rechonchudas e brancas que terminavam em peúgas brancas e sapatos elegantes com fivelas reluzentes, ofereciam um estranho contraste com os membros, compridos e morenos do seu companheiro. Na saliência do rochedo, por cima deste par singular, estavam três bútios, que ao verem os recém-chegados soltaram gritos roucos de desapontamento e se afastaram batendo as asas, soturnamente.

Os gritos das horrendas aves acordaram os dois que dormiam, que, desorientados, olharam em redor. O homem levantou-se a cambalear e olhou para a planície que tinha um aspecto tão desolador quando o sono se apoderou dele e que agora era atravessada por este imenso corpo de homens e de animais. O rosto assumiu uma expressão de incredulidade enquanto olhava fixamente e passava a mão ossuda pelos olhos.

- Isto é o que chamam de delírio, creio - murmurou ele.





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