Um Estudo em Escarlate - Cap. 8: Segunda Parte: 1 - Na Imensa Planície de Alcali Pág. 73 / 127

A criança ficou parada ao seu lado, agarrada à aba do casaco, não dizendo nada, mas olhando à volta com um olhar espantado, inquiridor, de criança.

O grupo de salvamento conseguiu, rapidamente, convencer os dois desgraçados de que o seu aparecimento não era uma alucinação. Um deles pegou na miúda e pô-la sobre os ombros, enquanto outros dois amparavam o seu magro companheiro e o ajudavam a dirigir-se para as carroças.

- Chamo-me John Ferrier - explicou o viajante -, de vinte e uma pessoas, eu e a pequena somos os que restam. Os outros morreram todos de sede e de fome, lá no sul.

- Ela é sua filha? - perguntou alguém.

- Acho que agora é - gritou o outro em ar de desafio.

- É minha, porque a salvei. Nenhum homem ma vai tirar. A partir de hoje ela é Lucy Ferrier. Então, quem são vocês? - continuou, olhando de relance, com curiosidade, para os seus salvadores, fortes e queimados pelo sol. - Parecem ser um grupo poderoso.

- Perto de dez mil - disse um dos jovens. - Somos os filhos perseguidos de Deus... os escolhidos do anjo Merona.

- Nunca ouvi falar dele - disse o viajante. - Parece que ele escolheu uma multidão.

- Não zombe daquilo que é sagrado - disse o outro, com dureza. - Somos daqueles que acreditam nos textos sagrados escritos em letras egípcias, em placas de ouro batido, que foram entregues ao santo Joseph Smith, em Palmira. Viemos de Nauvoo, no estado de Ilinóis, onde tínhamos fundado o nosso templo. Vimos em busca de um refúgio por causa dos homens violentos e dós ímpios, mesmo que seja no coração do deserto.

O nome Nauvoo fez, evidentemente, com que John Ferrier se lembrasse.

- Compreendo - disse ele. - Vocês são os mórmones.

- Somos os mórmones - responderam os companheiros em uníssono.

- E para onde vão?

- Não sabemos. A mão de Deus guia-nos na pessoa do nosso Profeta. Tem de comparecer perante ele. Ele dirá o que se deve fazer consigo.

Já tinham chegado ao sopé da colina e foram rodeados

por grupos de peregrinos - mulheres de rosto pálido, com ar dócil; crianças fortes e risonhas; homens ansiosos de olhar sério.





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