Um Estudo em Escarlate - Cap. 9: 2 - A Flor de Utá Pág. 76 / 127

2
A FLOR DE UTÁ

Este não é o lugar para solenizar os sofrimentos e privações suportados pelos imigrantes mórmones antes de terem chegado ao refúgio final. Da margem do Mississípi às encostas ocidentais das Montanhas Rochosas continuaram a lutar com uma constância quase sem paralelo na História. O homem selvagem e a fera, a fome, a sede, a fadiga e a doença - todas as dificuldades que a natureza podia colocar no caminho -, todas foram vencidas com tenacidade anglo-saxónica. No entanto, a longa viagem e os terrores acumulados abalaram os mais intrépidos. Não houve nenhum que não se pusesse de joelhos numa prece sentida quando viram o imenso vale de Utá banhado pelo sol por baixo deles e ficaram a saber pela boca do seu chefe que esta era a terra prometida, e que estes campos virgens seriam deles para sempre.

Young logo mostrou ser um administrador hábil, assim como um chefe resoluto. Foram traçados mapas e preparados gráficos, nos quais foi planeada a futura cidade.

Todas as quintas em redor foram divididas e distribuídas em proporção com a posição social de cada pessoa. O comerciante dedicou-se à sua profissão e o artesão ao seu ofício. Na cidade levantaram-se ruas e praças como por magia. No campo faziam-se drenagens e cercas, plantava-se e desbastava-se, até que o Verão seguinte viu toda a região dourada com o trigo. Tudo florescia na estranha colónia. Principalmente o enorme templo, que tinham erigido no centro da cidade, e que ia aumentando cada vez mais. Desde o primeiro raio da aurora até quase ao crepúsculo, o barulho do martelo e o ruído áspero da serra estavam sempre presentes no monumento que os imigrantes construíram para Ele, que os conduzira em segurança por muitos perigos.

Os dois desgraçados, John Ferrier e a miúda, que partilhara a sua sorte e fora adoptada como sua filha, acompanharam os mórmones até ao fim da grande peregrinação.





Os capítulos deste livro