Um Estudo em Escarlate - Cap. 10: 3 - John Ferrier Fala com o Profeta Pág. 84 / 127

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JOHN FERRIER FALA COM O PROFETA

Tinham passado três semanas desde que Jefferson Hope e os seus companheiros tinham partido de Salt Lake City. John Ferrier ficava desolado quando pensava no regresso do jovem e na perda iminente da sua filha adoptiva. No entanto, o rosto resplandecente e feliz da rapariga fê-lo resignar-se ao acordo mais do que qualquer argumento teria feito. Determinara sempre, no íntimo do seu coração resoluto, que nada o levaria a consentir que a sua filha se casasse com um mórmone. Considerava que não era um verdadeiro casamento, mas sim uma vergonha e uma desgraça. Fosse qual fosse a sua opinião a respeito das doutrinas dos mórmones, neste ponto era inflexível. No entanto, não podia dizer nada sobre o assunto, porque exprimir uma opinião heterodoxa era perigoso naqueles tempos na Terra dos Santos.

Sim, um assunto perigoso - tão perigoso que até os mais virtuosos só se atreviam a expressar em surdina as suas ideias religiosas, com a respiração reprimida, com medo de que alguma coisa que saísse dos seus lábios pudesse ser mal interpretada e fizesse abater sobre eles um castigo imediato. As vítimas de perseguições tinham-se transformado agora em perseguidores de moto próprio e opressores da pior espécie. Nem a Inquisição de Sevilha, nem o Vehmgericht alemão, nem as Sociedades Secretas de Itália foram alguma vez capazes de pôr em movimento um mecanismo mais terrível do que aquele que lançava uma nuvem sobre o estado de Utá.

A invisibilidade e o mistério que estavam ligados a ela, tornavam esta organização duplamente terrível. Parecia ser omnisciente e omnipotente; todavia, não era vista nem conhecida. O homem que se insurgisse contra a igreja desaparecia, e ninguém sabia para onde tinha ido ou o que lhe tinha acontecido. A mulher e os filhos esperavam-no em casa, mas o pai nunca voltava para lhes contar como caíra nas mãos dos seus juízes secretos.





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