Cândido - Cap. 27: CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla Pág. 104 / 118

CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla

O fiel Cacambo obtivera já do patrão do barco turco que ia reconduzir o sultão Achmet para Constantinopla a promessa de receber a bordo Cândido e Martin. Para lá se dirigiram ambos, depois de se terem prosternado diante de Sua desditosa Alteza.

Enquanto seguiam, Cândido disse a Martin:

- Pois é verdade, ceámos com seis reis destronados, a um dos quais tive que dar esmola. Talvez haja outros príncipes mais infelizes ainda. Quanto a mim, perdi apenas cem carneiros e voo para os braços de Cunegundes. Meu caro Martin, mais uma vez vos direi que Pangloss tinha razão: tudo está bem.

- Assim seja - disse Martin.

- Mas - disse Cândido - a aventura que tivemos em Veneza é bem pouco verosímil. Nunca se ouviu falar de seis reis destronados que jantassem juntos numa hospedaria.

- Não julgo isso mais extraordinário do que a maior parte das coisas que nos aconteceram - observou Martin, - Nada mais vulgar que reis destronados; e quanto à honra que tivemos em cear com eles, considero isso uma bagatela que não merece a nossa atenção.

Mal chegou ao navio, Cândido lançou-se logo ao pescoço do seu antigo criado, do seu amigo Cacambo, perguntando-lhe:

- E então, que faz Cunegundes? Continua sempre um prodígio de beleza? Ainda me ama? Como vai ela de saúde? Compraste-lhe, certamente, um palácio em Constantinopla...

- Meu caro amo - respondeu Cacambo -, Cunegundes lava escudelas nas margens do Propôntide, em casa de um príncipe que tem muito poucas escudelas. É escrava de um antigo soberano, chamado Ragotski, a quem o grão-turco manda a casa três escudos por dia. Mas o que é mais triste ainda é que ela perdeu a beleza e se tornou horrivelmente feia.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113