Cândido - Cap. 29: CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha Pág. 111 / 118

CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha

Enquanto Cândido, o barão, Pangloss, Martin e Cacambo contavam as suas aventuras, discorriam sobre os acontecimentos contingentes ou não contingentes deste universo, questionavam sobre as causas e os efeitos, sobre o mal moral e o físico, sobre a liberdade e a necessidade, sobre as consolações que se podem sentir quando se não está nas galés da Turquia, chegaram a casa do príncipe da Transilvânia, nas margens do Propôntide. As primeiras pessoas que viram foram Cunegundes e a velha, que dependuravam guardanapos em cordéis para secarem.

O barão empalideceu perante o que se lhe deparava. O terno amante Cândido, ao ver a sua bela Cunegundes de pele escura, olhos raiados de sangue, peito chato, faces enrugadas, braços vermelhos e escamosos, recuou dois passos, tomado de horror, e avançou levado apenas pelo seu bom coração. Cunegundes abraçou Cândido e o irmão e todos abraçaram a velha. Cândido resgatou-as a ambas.

Havia na vizinhança uma pequena quinta, cuja compra a velha propôs a Cândido, a fim de nela se instalarem enquanto cada um deles não encontrasse melhor destino. Cunegundes não sabia que estava feia; ninguém lho havia dito! Lembrou a Cândido as suas promessas num tom tão absoluto que ele não ousou recusar. Comunicou então ao barão que ia casar com a irmã dele.

- Não consentirei jamais - disse o barão - numa tal baixeza da parte dela nem vos suportarei a insolência. Não quero que me seja lançada em rosto tal infâmia, que privaria os filhos de minha irmã dos seus direitos de nobreza. Não, a minha irmã só desposará um barão do Império.

Cunegundes lançou-se-lhe aos pés e banhou-lhos de lágrimas.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113