Cândido - Cap. 17: CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram Pág. 56 / 118

Cândido apanhou-as, correu para o preceptor e apresentou-lhas humildemente, dizendo-lhe por gestos que Suas Altezas Reais se haviam esquecido das marcas de ouro e pedrarias. O mestre da aldeia, a sorrir, atirou-as para o chão, observou por momentos a figura de Cândido, com ar surpreendido, e continuou o seu caminho.

Os viajantes não deixaram de apanhar o ouro, os rubis e as esmeraldas.

- Onde estaremos nós? - exclamou Cândido. - É preciso que os filhos do rei deste país sejam muito bem-educados, pois lhes ensinaram a desprezar o ouro e as pedrarias.

Cacambo estava tão surpreendido como Cândido. Aproximaram-se enfim da primeira casa da aldeia, que parecia um palácio da Europa. Via-se grande multidão a entrar e ainda mais gente lá dentro. Ouvia-se uma música muito agradável e da cozinha saía um cheiro delicioso. Cacambo aproximou-se da porta e percebeu que se falava o peruviano. Era a sua língua materna, pois, como toda a gente sabe, Cacambo nascera no Tucumã, numa aldeia onde apenas se conhecia essa língua.

- Servir-vos-ei de intérprete - disse ele a Cândido.

- Entremos, pois isto deve ser uma estalagem.

Imediatamente dois criados e duas crianças, vestidos de um tecido de ouro e com os cabelos atados por fitas, os convidaram a sentar-se à mesa. Serviram-lhes quatro sopas, cada uma delas guarnecida de dois papagaios, um condor cozido que pesava duzentas libras, dois saborosos macacos assados, um prato em cuja confecção entravam trezentos colibris e outro com seiscentos beija-flores, acepipes escolhidos e sobremesas deliciosas. Tudo isto servido em pratos de cristal. Os criados e as criadas enchiam constantemente os copos de variados licores feitos de cana-de-açúcar.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113