Cândido - Cap. 18: CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado Pág. 62 / 118

Não teremos de recear os inquisidores e poderemos facilmente retomar a menina Cunegundes.

Estas palavras agradaram a Cacambo. Gosta-se tanto de viajar, de fazer figura entre os seus, contando o que se viu nas viagens que se fizeram, que os dois felizardos resolveram deixar de o ser e pedir a Sua Majestade que lhes concedesse licença para partirem.

- Fazeis uma loucura - disse-lhes o rei. - Sei bem que o meu país pouco vale, mas quando se está bem num sítio, o melhor é deixar-se estar. Não tenho o direito de reter estrangeiros. Seria uma tirania, que não é permitida pelos nossos costumes e leis. Todos os homens são livres. Parti quando quiserdes. No entanto, a saída é bastante difícil. É impossível subir o impetuoso rio pelo qual milagrosamente aqui chegastes e que corre entre rochedos que o tapam. As montanhas que rodeiam todo o meu reino têm dez mil pés de altura e são direitas como muralhas. Estendem-se num percurso de mais de dez léguas de largura e só se podem transpor descendo pelos precipícios. Porém, visto que pretendeis absolutamente partir, vou dar ordem aos meus intendentes dos maquinismos que engendrem uma máquina que vos possa transportar comodamente. Depois de vos conduzirem até ao alto das montanhas, ninguém vos poderá acompanhar, porque os meus súbditos fizeram voto de não mais sair as fronteiras que os rodeiam e são demasiado prudentes para romperem o seu juramento. Quanto ao mais, pedi-me o que desejardes.

- Pedimos apenas a Vossa Majestade - disse Cacambo alguns carneiros carregados de víveres, pedras e terra do vosso país.

O rei riu-se e disse:

- Não compreendo o gosto que as pessoas da Europa têm pela nossa lama amarela. Mas levai a que quiserdes e que vos faça bom proveito.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113