Cândido - Cap. 22: CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin Pág. 79 / 118

Esta dama fazia-se chamar marquesa de Parolignac. Uma sua filha, de quinze anos de idade, estava sentada entre os jogadores e advertia-a com um rápido piscar dos olhos das trapacices destes infelizes ao tentarem remediar as crueldades da sorte.

O abade perigordino, Cândido e Martin entraram. Ninguém se levantou, nem os cumprimentou, nem sequer para eles olhou. Todos estavam profundamente atentos ao jogo.

- A Srª. Baronesa de Thunder-ten-tronckh era mais educada - observou Cândido.

Entretanto, o abade aproximou-se da marquesa e falou-lhe ao ouvido; ela, soerguendo-se, honrou Cândido com um sorriso gracioso e concedeu a Martin uma delicada e nobre inclinação de cabeça. Mandou dar uma cadeira e um baralho a Cândido, que perdeu cinquenta mil francos em duas cartadas. Depois cearam alegremente e toda a gente se espantou por Cândido se não mostrar preocupado com a perda de tanto dinheiro. Os criados diziam uns para os outros, na sua linguagem de criados: «Não pode deixar de ser um milorde inglês.»

A ceia foi como a maioria das ceias de Paris. De início o silêncio, em breve um barulho tal que ninguém se entendia, depois gracejos, na sua maioria insípidos, boatos, maus juízos, um pouco de política e muito de maledicência. Falou-se até de livros novos.

- Já lestes - perguntou o abade perigordino - o romance do Sr. Gauchat, doutor em Teologia?

- Sim - respondeu um dos convivas -, comecei a lê-lo mas ainda não o acabei. Temos no nosso país muitos livros impertinentes, mas todos juntos não conseguem aproximar-se da impertinência de Gauchat, doutor em Teologia. Estou tão farto desses detestáveis livros que nos ameaçam submergir que comecei a jogar o faraó.

- E das Mélanges, do arcediago T.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113