.., que me dizeis? - perguntou o abade.
- Ah! - disse a Sr! De Parolignac -, que homem tão maçador! É um livro que diz em segredo aquilo que toda a gente já sabe, que discute a fundo o que não merece sequer ser aflorado que se apropria, sem espírito algum, do espírito dos outros, estragando-o. Como ele me aborrece! Mas não me aborrecerá mais, pois chegaram para me aborrecer as poucas páginas que dele li.
Encontrava-se à mesa um homem sabedor e de bom gosto que apoiou o que a marquesa dissera. Falou-se em seguida de teatro. A dama perguntou porque é que havia peças que se podiam suportar em cena, mas que não se conseguia ler. O homem de gosto explicou muito bem como uma peça poderia ter interesse e não possuir mérito algum. Provou em poucas palavras que não era bastante apresentar duas ou três situações extraídas dos romances e que seduzem sempre os espectadores, mas que era preciso ser-se novo sem se ser bizarro, muitas vezes sublime e sempre natural, conhecer o coração humano e fazê-lo falar, ser um grande poeta sem que, contudo, nenhuma das personagens da peça seja poeta, e sobretudo conhecer perfeitamente a sua língua, falá-la com pureza e com uma harmonia contínua, sem que, porém, a rima prejudique o sentido.
- Todo aquele que não observar estas regras - observou de - poderá fazer uma ou duas tragédias com êxito no teatro, mas nunca será tido no número dos grandes escritores. Temos muito poucas peças com qualidade. Umas são idílios em diálogos bem escritos e bem rimados; outras, discursos políticos que fazem adormecer ou deformações desagradáveis; outras, ainda, sonhos ce energúmenos, em estilo bárbaro, jogos sem sentido, longas apóstrofes aos deuses, porque os seus autores não sabem falar dos homens, máximas falsas e lugares-comuns empolados.