Cândido - Cap. 25: CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano Pág. 94 / 118

CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano

Cândido e Martin tomaram uma gôndola no Brenta e chegaram ao palácio do nobre Pococuranté. Os jardins eram extensos e ornados de belas estátuas de mármore; o palácio, de esplêndida arquitectura. O dono da casa, homem de sessenta anos, muito rico, recebeu delicadamente os dois curiosos, mas com tão pouca solicitude, que desconcertou Cândido e agradou imenso a Martin.

Primeiramente, duas lindas raparigas, muito bem vestidas, serviram-lhes chocolate, muito bem batido. Cândido não pôde deixar de elogiar a sua beleza, a sua graça e a sua habilidade.

- São boas pessoas - disse o senador Pococuranté -; faço-

-as dormir algumas vezes comigo, porque estou farto das damas

da cidade, das suas galantarias, dos seus ciúmes, das suas zangas, dos seus humores, das suas futilidades, do seu orgulho, das suas palermices e dos sonetos que é preciso fazer ou encomendar para elas. Porém, apesar de tudo, estas duas raparigas começam já a aborrecer-me.

Cândido, passeando, depois do almoço, numa comprida galeria, ficou surpreendido com a beleza dos quadros.

Perguntou então que mestre tinha pintado os dois primeiros. - São de Rafael- respondeu o senador. - Comprei-os por alto preço, já há alguns anos, para satisfazer a minha vaidade. Dizem que são os mais belos de toda a Itália. Mas não me agradam. A cor é muito sombria e as figuras são pouco arredondadas é não sobressaem. As roupagens não dão a ilusão de tecido - em suma, digam o que disserem, não encontro nestas pinturas uma verdadeira imitação da natureza. Só gostarei de um quadro quando julgar estar a ver nele a própria natureza: mas esses não existem. Possuo imensos quadros, mas nem já olho para eles.





Os capítulos deste livro

CAPÍTULO I - Como Cândido foi educado num belo castelo e porque dele foi expulso 1 CAPÍTULO II - O que aconteceu a Cândido entre os Búlgaros 4 CAPÍTULO III - Como Cândido se livrou dos Búlgaros e o que lhe aconteceu 7 CAPÍTULO IV - Como Cândido encontrou o seu antigo mestre de filosofia, o Dr. Pangloss, e o que lhe aconteceu 10 CAPÍTULO V - Tempestade, naufrágio, tremor de terra, e o que aconteceu ao Dr. Pangloss, a Cândido e ao anabaptista Tiago 14 CAPÍTULO VI - Como se fez um belo auto-de-fé para impedir os tremores de terra e como Cândido foi açoitado 18 CAPÍTULO VII - Como uma velha cuidou de Cândido e ele encontrou aquela que amava 20 CAPÍTULO VIII - História de Cunegundes 23 CAPÍTULO IX - O que aconteceu a Cunegundes, a Cândido, ao inquisidor-mor e ao judeu 27 CAPÍTULO X - Em que angústia Cândido, Cunegundes e a velha chegam a Cádis e como embarcaram 29 CAPÍTULO XI - História da velha 32 CAPÍTULO XII - Continuação da história das desgraças da velha 36 CAPÍTULO XIII - Como Cândido foi obrigado a separar-se da bela Cunegundes e da velha 40 CAPÍTULO XIV - Como Cândido e Cacambo foram recebidos entre os jesuítas do Paraguai 43 CAPÍTULO XV - Como Cândido matou o irmão da sua querida Cunegundes 47 CAPÍTULO XVI - O que aconteceu aos dois viajantes com duas raparigas, dois macacos e os selvagens chamados Orelhões 50 CAPÍTULO XVII - Chegada de Cândido e do seu criado ao país do Eldorado e o que aí Viram 54 CAPÍTULO XVIII - O que viram no país do Eldorado 58 CAPÍTULO XIX - O que lhes aconteceu em Suriname e como Cândido conheceu Martin 64 CAPÍTULO XX - O que aconteceu no mar a Cândido e a Martin 70 CAPÍTULO XXI - Cândido e Martin aproximam-se das costas de França e filosofam 73 CAPÍTULO XXII - O que aconteceu em França a Cândido e a Martin 75 CAPÍTULO XXIII - Cândido e Martin dirigem-se para as costas de Inglaterra e o que por lá vêem 87 CAPÍTULO XXIV - De Paquette e do Irmão Giroflée 89 CAPÍTULO XXV - Visita ao Sr. Pococuranté, nobre veneziano 94 CAPÍTULO XXVI - De uma ceia que Cândido e Martin tiveram com seis estrangeiros e quem eles eram 100 CAPÍTULO XXVII - Viagem de Cândido para Constantinopla 104 CAPÍTULO XXVIII - O que aconteceu a Cândido, Cunegundes, Pangloss, Martin, etc. 108 CAPÍTULO XXIX - Como Cândido reencontrou Cunegundes e a velha 111 CAPÍTULO XXX – Conclusão 113