Eurico, o Presbítero - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 146 / 186

Mal sabiam eles quanto os alcantis do Calpe eram mais ásperos, os seus despenhadeiros mais frequentes, os seus córregos mais fundos, e quantas vezes esse homem os havia galgado na escuridão de alta noite, por entre o redemoinhar e bramir do vento e das tempestades.

Foi por um momento rapidíssimo que durou a imobilidade dos godos, porque tanto bastou ao cavaleiro negro para transpor a breve largura do Sália e sumir-se na floresta que, descendo das montanhas fronteiras, vinha quase tocar na borda dos alcantis pendurados sobre as águas.

Os dez guerreiros, uns após outros, galgaram ligeiros por cima do roble nodoso, sem abaixarem os olhos para a espécie de sorvedouro negro, revolto, ruidoso, que, mugindo lá em baixo, parecia, com seu estrépito violento, tentar atraí-los e devorá-los.

Sanción foi o derradeiro a passar: a meio rio sentiu após si o tumulto dos árabes que se precipitavam dentro dos arruinados valos romanos. Não titubeou e seguiu avante. Chegando à margem aposta, volveu os olhos e viu que alguns dos inimigos punham pé em terra e, cegos na sua fúria, se arrojavam para a ponte fatal.

— Godos, aqui! — gritou ele: e o primeiro golpe do franquisque deu um som baço, entrando nas raízes ainda vivas da velha árvore.

E, manso e manso, os agarenos, lançando-se ao comprido sobre o cepo que estremecera ao golpe de Sanción e segurando-se às cavidades do velho tronco e às asperezas do seu grosseiro córtex, se aproximavam, semelhantes ao estélio que se arrasta, nas ruínas de Balbek, ao longo de coluna tombada.





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