O Vil Metal - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 213 / 257
Mr. Cheeseman não era má pessoa para conviver, desde que o empregado se mentalizasse de que, mesmo que trabalhasse até ao dia do Juízo Final, nunca veria o salário aumentado. Escusado será dizer que' suspeitava de que Gordon desviava dinheiro da caixa. Após uma ou duas semanas, concebeu um novo sistema de contabilidade, pelo qual podia determinar quantos livros tinham saído e comparar o resultado com a receita do dia. Reconhecia, porém, que Gordon tinha a possibilidade de alugar alguns e não efectuar o respectivo registo, pelo que o receio de que o lesasse em seis pence ou mesmo um xelim continuava a apoquentá-lo, como a ervilha debaixo do colchão da princesa. No entanto, Mr. Cheeseman não se podia considerar absolutamente antipático, à sua sinistra e diminuta maneira. Ao fim da tarde, depois de fechar a livraria principal, dirigia-se à outra para recolher a receita do dia e entretinha-se a conversar um pouco com Gordon e descrever com um casquinar ruidoso os ardis comerciais que pusera em prática recentemente.
Graças a essas conversas, Gordon conjecturara a história do homem. Crescera entre a compra e venda de roupa usada, que constituía a sua vocação espiritual, por assim dizer, e herdara a livraria de um tio, três anos atrás. Na altura, tratava-se de um daqueles horríveis estabelecimentos em que nem prateleiras há e os livros se amontoam, sem qualquer tentativa de classificação. Frequentavam-na sobretudo coleccionadores de obras antigas, porque surgia ocasionalmente um volume valioso entre as pilhas de lixo; mas a actividade que mais contribuía para que continuasse aberta ao público era a venda de edições brochadas de romances de acção de dois pence. A princípio, Mr. Cheeseman presidira ao caos com profunda repulsa. Detestava os livros e ainda não se compenetrara de que podia ganhar dinheiro com eles.