As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 7: O Corcunda Pág. 158 / 274

Ao fazê-lo, parou e gritou com uma voz medonha: 'Meu Deus, é a Nancy!' Mrs. Barclay ficou branca como a morte e teria caído se não tivesse sido amparada por aquela criatura de aspecto pavoroso. Eu ia chamar a polícia, ela, porém, para minha surpresa, falou com ele muito amavelmente, como se segue:

'- Pensei que você já estivesse morto, nestes trinta anos, Henry' disse numa voz trémula.

'- E estive'- disse ele, e era terrível o timbre de voz em que o dizia. Tinha um rosto muito escuro, pavoroso, e um brilho nos olhos que revejo em sonhos. Os seus cabelos e as barbas começavam a ficar grisalhos. A face era toda enrugada e cheia de pregas, como uma maçã murcha.

'- Vá andando adiante, querida' - disse Mrs. Barclay. '- Quero ter uma conversa com este homem. Não há nada a recear.' - Tentou falar com naturalidade, mas continuava mortalmente pálida e mal podia falar, devido ao tremor dos seus lábios.

»Fiz como me pediu, e eles caminharam juntos por alguns minutos. Então ela desceu a rua com os olhos em brasa. E vi o inválido destroço de pé, junto do candeeiro, com o punho erguido, como se estivesse louco de raiva. Ela não disse mais uma palavra até chegar à porta e, aí, tomou-me pela mão e pediu-me para não dizer nada a ninguém sobre o que havia acontecido.

'- Ele é uma antiga amizade que se perdeu para o mundo', - disse ela. Quando lhe prometi que nada diria, deu-me um beijo, e desde então nunca mais a vi. Agora, disse-lhe toda a verdade, e se a ocultei da polícia foi porque não avaliara ainda o perigo a que a minha querida amiga se expunha. Sei que só lhe trará vantagem que tudo seja conhecido.»

»Eis o seu relato, Watson, que foi para mim, como deve imaginar, como uma luz numa noite escura.





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