As memórias de Sherlock Holmes - Cap. 4: A Tragédia do Glória Scott Pág. 77 / 274

De modo que quem ali não passasse um mês agradável seria uma pessoa muito exigente.

Trevor era viúvo. O meu amigo era filho único. Tivera uma filha, ouvi dizer, mas morrera de difteria quando de visita a Birmingham. O pai interessou-me extremamente. Era de pouca cultura, mas com uma admirável soma de força rude, tanto física como mental. Não apreciava livros; tinha, porém, viajado muito, vira muita coisa do mundo e lembrava-se de tudo o que tinha aprendido. Era atarracado, corpulento, com um tufo de cabelos grisalhos, tez morena e marcada pelo tempo, olhos azuis com um brilho de ferocidade. Tinha, todavia, a reputação de bom e era conhecido pela justiça das suas sentenças no tribunal.

Uma noite, logo depois da minha chegada, estávamos sentados, após o jantar, para tomar um copo de vinho do Porto, quando o jovem Trevor começou a falar dos hábitos de observação e dedução que eu havia reduzido a um sistema, embora não tivesse avaliado ainda a importância que teriam na minha vida. O velho pensou, naturalmente, que o filho exagerava a descrição de uma ou duas façanhas que eu havia realizado.

«- Acontece, Sr. Holmes - disse, sorrindo com bom humor -, que sou um excelente sujeito, se o senhor quiser deduzir alguma coisa a meu respeito.»

«- Receio que não haja muito» - respondi eu. «- Podia, no entanto, sugerir que o senhor tem andado com medo de um ataque pessoal nestes últimos doze meses.»

O sorriso morreu-lhe nos lábios e olhou para mim com grande surpresa.

«- Bem, tem razão» - disse-me. «- Sabe, Vítor - disse voltando-se para o filho -, descobrimos aquele bando de gatunos e eles juraram apunhalar-nos. E Sir Edward Hoby foi realmente atacado. Desde então fiquei sempre de atalaia.





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