O Mundo Perdido - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 163 / 286

- Tivemos o privilégio de ouvir uma tragédia pré-histórica: algo análogo aos dramas que se desenrolavam nos caniços à beira de uma laguna jurássica, quando um grande dragão, por exemplo, se abatia sobre um mais pequeno - disse-nos Challenger com uma voz mais grave do que de costume. - Foi uma boa coisa para o homem ter chegado mais tarde na ordem da criação! Nas primeiras idades existiam tais forças que nem a sua inteligência nem qualquer técnica teriam podido prevalecer. Que teriam feito a sua funda, a sua moca ou as suas setas contra forças cujo ímpeto acabamos de ouvir? Mesmo com uma boa espingarda, eu apostaria no monstro.

- Creio que eu apostaria na minha pequena camarada - disse Lorde John enquanto acariciava a sua Express. - Mas o animal teria, por certo, uma boa hipótese!

Summerlee ergueu a mão no ar:

- Chiu! Estou a ouvir qualquer coisa...

Do silêncio total emergiu um ruído de pancadinhas pesadas e regulares. Eram os passos de um animal: o ritmo ao mesmo tempo pesado e suave de passos cautelosos. Deu lentamente a volta ao acampamento e parou perto da entrada. Ouvimos um assobio abafado que subia e descia: o bufar do animal. Apenas a nossa fraca cerca nos separava daquele visitante nocturno. Havíamos todos pegado numa espingarda e Lorde John afastara ligeiramente uma moita para abrir uma ameia na cerca.

- Meu Deus! - murmurou. - Creio que o estou a ver!

Rastejei até junto dele; por cima do meu ombro espreitei pelo buraco. Sim, eu também o via! Na sombra negra da árvore de especiarias erguia-se uma sombra ainda mais negra, confusa, incompleta: uma forma compacta plena de vigor selvagem.





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