Sucedeu-nos uma coisa terrível. Quem teria podido prevê-la? Já não posso assinalar um termo para as nossas provações. Estamos talvez condenados a terminar os nossos dias neste lugar estranho, inacessível. Ainda me sinto tão perturbado que mal posso reflectir nos factos actuais e nas hipóteses do futuro. Os meus sentidos agitados julgam os primeiros terrificantes e as segundas tão sombrias como o Inferno.
Ninguém nunca se encontrou em pior situação; e para que serviria revelar a nossa posição geográfica exacta ou pedir aos nossos amigos que viessem auxiliar-nos? Mesmo se se organizasse uma caravana de socorro, ela chegaria certamente demasiado tarde à América do Sul: o nosso destino estaria encerrado há muito tempo.
Com efeito, encontramo-nos tão longe de qualquer salvamento humano como se estivéssemos na Lua. Se conseguirmos vencer as dificuldades, não o ficaremos a dever senão às nossas próprias qualidades. Tenho por companheiros três homens notáveis: homens dotados de um cérebro poderoso e de uma coragem indomável. Tal é a nossa suprema esperança. É só quando fito os rostos imperturbáveis dos meus companheiros que entrevejo uma claridade na nossa noite. Exteriormente pareço tão indiferente como eles. Interiormente sinto um terror louco.
Devo comunicar-lhe, com todos os pormenores possíveis, a sucessão dos acontecimentos que determinaram esta catástrofe.